quinta-feira, 29 de setembro de 2016

#Marvel #BattleScenes - Já se inscreveu no Primeiro Torneio de BS Online mas não sabe como jogar? Aprenda no canal Lobo Guarah!

Veja como jogar Battle Scenes Online usando a plataforma Tabletop Simulator do Steam neste ótimo tutorial em video do canal Lobo Guarah do Youtube!

https://youtu.be/dkxUUvKezpo


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

#Marvel #BattleScenes - Primeiro Torneio de Battle Scenes Online

Veja como se inscrever e participar do Primeiro Torneio de Battle Scenes Online usando a plataforma Tabletop Simulator do Steam

https://www.facebook.com/marvelbsonline/


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

#Marvel #BattleScenes - Participe da grande Vernissage do Dr. Shuma Gorath nessa ótima dica de deck, por Felipe Andrei

http://www.battlescenes.com.br/dica-de-deck-vernissage-do-dr-shuma/


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Vidas Paralelas



“Tenho que pegar essa criatura”
Gatas Extraordinárias - Cassia Eller


Jebb estava de pijama na cama, distraído. Passavam das três horas da madrugada. Nada melhor pra fazer, a insônia o incomodando, ele resolveu retomar uma daquelas suas outras vidas, onde ele era um explorador e um caçador, e também um treinador daquelas estranhas criaturas que povoavam um mundo paralelo.

O escritor havia acordado irritado naquela madrugada, com mais de dez ideias, quase todas ruins e irritantes. Talvez fosse a décima vez que ele acordava no meio daquela sua crise intransigente de insônia. Talvez estivesse acordado o tempo todo, todas as dez vezes, fingindo que tentava voltar a dormir só pra acordar de novo depois.

Telecomunicador ligado, a imersão na realidade alternativa se iniciava. O objetivo do jovem Jebb nessa outra vida era o mesmo de tantos outros companheiros de jornada virtual: capturar as criaturas do mundo fantástico apresentado pelo programa, tratá–las, vê–las crescer e evoluir, e treiná–las para duelar contra as criaturas de outros treinadores.

Uma daquelas mais de dez ideias ruins e irritantes, matar alguém, políticos novos de que ele nunca ouvira falar mas que faziam as mesmas propagandas e promessas idiotas da eleição de quatro anos antes, partidários de políticos, juízes, funcionários públicos, bandidos, mendigos, viciados em crack, bêbados, vendedores, cobradores, crentes, quem sabe uma criança inocente só pra ver o que a gente sente quando mata uma criança inocente, quem sabe matar muitas crianças inocentes, quem sabe matar–se, ou matar a maldita insônia enchendo–se de chá de camomila / cidreira / maracujá / melissa / tudo isso junto, ou então abrir a janela e gritar feito louco e acordar os vizinhos só pra rir da cara deles e vê–los querendo matá–lo de pancada... uma daquelas mais de dez ideias ruins e irritantes parecia ser uma boa ideia, a melhor ideia de todas naquele momento de revolta: escrever.

Jebb gostava de viver as vidas paralelas em mundos de mentira que os jogos no telecomunicador portátil ofereciam. Servia para fazê–lo esquecer das inquietações da vida real, deixando–o satisfeito e feliz, enquanto o interesse pela aventura se mantivesse. E o mundo holográfico daquele jogo era surpreendente e inovador. Bastava ligar o aparelho e iniciar o software para que toda aquela dimensão de fantasia fosse projetada sobrepondo–se à própria realidade. Lugares do mundo real se transformavam em edificações virtuais, em um mapa que se extendia pelo mundo inteiro, permitindo que o aventureiro explorasse um mundo à parte caminhando pelas ruas de sua própria cidade. Era realista ao extremo, e bem fácil de se lidar – apesar das caminhadas serem um tanto cansativas. Jebb sentia seu interesse pelo jogo se renovar a cada nova incursão.

Escrever, porque ele era – ou achava que era – escritor. Escrever porque ele sabia escrever, ou achava que sabia. Diziam que ele sabia, mesmo aqueles que nunca tinham lido mais de dez linhas do que ele havia escrito. Escrever porque era terapêutico, e assim ele não mataria nem crianças inocentes nem mais ninguém. Escrever porque ele era um inquilino bonzinho e não queria incomodar os vizinhos com sua irritação.

Tão logo o jogo começou a funcionar, a primeira coisa que o jovem caçador fez ali dentro daquela sua outra vida foi verificar os diversos instrumentos que o sistema oferecia. Jebb analisou os mapas holográficos, os sensores e os guias de localização. Checou registros e catálogos. Conferiu o arsenal de pequenos dispositivos que havia na mochila que ele sempre levava consigo quando estava naquela dimensão. Tudo estava ok.

Escrever, mas não apenas escrever. Escrever para testar aquele mecanismo de fala que ele tinha descoberto em seu celular novo, modelo Extra Z Plus, com bateria de duração dupla e metade do tempo de carregamento e três chips e sensor de impressão digital – A–há! Ninguém entra em seu Extra Z Plus além de você! – além de acesso direto e gratuito por N meses ao Twitterscape, Netbook, Flixmedia, Instatime e outros tantos Putaqueoparix, tudo por apenas $XXXX,xx dinheiros, em YY prestações sem juros! Tudo isso, essas e outras dúzias de comodidades incômodas do mundo digital pós–moderno... e também o mecanismo de fala, que converte a voz do usuário em texto – característica sublime que o escritor descobriu por acaso, e que não estava listada entre as comodidades incômodas apresentadas pelo fabricante no manual do celular, nem em sua caixa de papelão, ou no pôster na parede da loja e nem mesmo na propaganda que não parava de aparecer na televisão ou nos Putaqueoparix das redes sociais da internet.

Jebb não detectou nada de especial ao vasculhar os mapas, com exceção das mesmas pragas de sempre. Larvas, insetos, pombos e morcegos. Ah, os insuportáveis morcegos. Havia morcegos em todos os lugares daquela cidade. Até mesmo durante o dia. Morcegos pequenos e grandes. Uma verdadeira infestação.

Cansado de lutar contra a insônia e pensando apenas em um "por que não?", o escritor acionou o aplicativo de texto e o microfone do mecanismo de conversão de voz. Atento, o celular como que piscou e se insinuou para ele em imagens cintilantes na sua tela, dizendo sem dizer nada algo que deixava a impressão de ser "pode falar, amigão" ou "manda ver, sou todo ouvidos".

Jebb não podia mais nem ouvir falar daqueles bichos. Tinha capturado vários morcegos no início de sua jornada, mas acabara desistindo deles com o passar do tempo. Era muito desperdício das armadilhas que forravam boa parte do microcosmo de itens que existia no interior de sua mochila. Armadilhas essas que não eram lá coisa muito fácil de se achar, principalmente agora que ele se tornara mais experiente e tinha recebido acesso a equipamentos mais avançados. Os pontos de coleta de itens daquela região onde vivia, que não eram muitos, hoje em dia ofereciam uma grande variedade de utensílios diferentes, remédios e mantimentos de vários tipos, e às vezes até ovos – que ele precisava armazenar e garantir que chocassem – mas cada vez menos armadilhas. E como os pacotes de itens distribuídos nos pontos de coleta tinham conteúdo aleatório, ele tinha consciência que não era recomendável desperdiçar armadilhas com morcegos.

Foi ali mesmo que o escritor sentiu como se a sua mente e o que havia nela, ideias ruins, irritação, insônia, tudo tivesse deixado de existir. Durou não mais que alguns segundos, mas foram momentos em que ele ficou sem ter qualquer ideia do que fazer. Engolindo em seco, ele encarou o microfone estilizado e desafiador que brilhava na tela do celular... Estarrecido e mudo. Nada a declarar, mesmo ele querendo e muito declarar alguma coisa.

Morcegos, pombos e insetos. Era só o que havia. Com pombos e insetos até era fácil de se trabalhar, havia muito o que fazer com eles, muitas formas de treinamento, muita experiência a se obter. Diferente dos quirópteros, que só ocupavam espaço e demandavam tempo e recursos demais em seu tratamento e evolução. Invariavelmente ele se via obrigado a transferir os morcegos para um depósito para liberar espaço em seu limitado zoológico particular. Esta era a pior das transações que se podia fazer naquele mundo, porque rendia não mais do que uma dose de rações, coisa que podia ser obtida em quantidade muito maior durante capturas e outros eventos. Em suma, uma enorme perda de tempo.

“Por tudo o que é mais sagrado!”, pensou o escritor, incapaz de proferir palavra. Ele se sentia ridículo e a situação como um todo era absurda. Parecia que o silêncio da madrugada era algo sagrado que não poderia ser rompido sob pena de danação eterna nos mais baixos quintos dos infernos, principalmente se isso se desse em uma conversa interespécies, criador e criatura, envolvendo um ser humano e seu celular. “É proibido falar, diz o aviso que eu vi”... Era bem assim que acontecia quando ele abordava aqueles africanos magrelos e malucos que moravam no segundo andar de seu prédio, ou os jovens bem mais jovens que ele, forrados de piercings, tatuagens e gírias incompreensíveis, que ele encontrava na rua ou nos clubes. Em ambas as situações não conseguia entender quase nada do que lhe diziam e daí não sabia como responder e emudecia por completo.

Deixando os morcegos e as outras pestes de lado, o jovem resolveu conferir os arredores daquela sua região, averiguando os pontos de coleta e os ginásios localizados nas proximidades. Essas edificações virtuais eram espalhadas de modo a ocuparem os mesmos espaços geográficos de estátuas, monumentos, escolas e igrejas localizados no mundo real. E tais sobreposições eram permanentes e jamais mudavam. Exemplificando, a estátua do fundador da cidade e o centro histórico municipal eram postos de coleta, a igreja matriz no centro da cidade era um ginásio, uma arena de batalha, e assim por diante. Em sua região existiam sete ou oito pontos de coleta bem próximos, metade deles ocupando no mundo de mentira o espaço das estátuas e obeliscos e até mesmo do grande chafariz reais que havia na praça central de sua cidade. Ali também existiam dois ginásios de combate, um na referida igreja matriz e outro em uma escultura de uma mulher com uma criança.

Acontece que aquilo era apenas um celular, não um bando de negros senegaleses ou haitianos de sotaque um mais esquisito que o outro, nem de adolescentes espevitados de linguajar cifrado. E ele não podia ficar encabulado de ter que conversar com um celular, mesmo que "ter que conversar com um celular" soasse como a coisa mais absurda de todos os tempos.

Algo chamou a atenção de Jebb, atraindo–o para um setor do mapa onde havia um dos ginásios de sua área, aquele que ficava na catedral. Havia uma vaga desocupada naquele local. Uma posição onde ele poderia colocar um de seus bichos virtuais para participar das rinhas, o que lhe renderia uma quantidade razoável de créditos. E vejam só, o mesmo acontecia no outro ginásio, na estátua arredondada e esquisita da mulher com a criança. Créditos em dobro!

O escritor respirou fundo e, tentando não parecer tão ridículo quanto imaginava estar sendo, disse uma frase. E foi com aquela frase que ele começou a narrar o conto que tinha em mente.

Sem pensar muito, Jebb começou a trocar de roupa. Olho na movimentação dos mapas, ele vestiu calça e casaco, calçou o tênis e saiu correndo do apartamento.

Sentindo–se revigorado e satisfeito, extasiado até, ele foi falando, contando sua história. E conforme ele ia narrando, o celular ia escrevendo...

Os registros não mostravam nenhuma movimentação. Cercados por cinco ou seis postos de coleta de itens, os dois ginásios permaneciam calmos e plácidos, os monstrinhos postados em estado de guarda, sem nenhum sinal de combate ou de movimentação nas proximidades. E o melhor de tudo: eram dois ginásios com a bandeira azul. Era muita sorte...

Como era de se esperar, erros aconteciam. O celular nem sempre entendia o que ele dizia, trocava palavras às vezes, ou mudava a conjugação de verbos, ou escrevia coisas sem nexo ou em outras línguas. Certas frases viravam coisa completamente diferente do que ele havia dito. Ah, e ele descobriu que o celular era parcamente alfabetizado e não sabia que se devia usar pontuação nas sentenças ou letra maiúscula no início das frases.

Enquanto abandonava o elevador e rumava pelo corredor buscando a saída do prédio, Jebb relembrava o funcionamento das coisas no universo daquela aventura. Existiam três equipes de treinadores, a vermelha, a amarela e a azul, da qual ele fazia parte, pois todos os treinadores eram obrigados a escolher uma daquelas afiliações nos primeiros estágios da missão. E eram essas equipes as responsáveis pelas contendas que aconteciam nos ginásios, os quais deveriam ser conquistados em combates para após poderem ser povoados por uma brigada de monstros dos treinadores da equipe vencedora, possibilitando as lutas de treinamento, algo que rendia muita experiência para as criaturas e treinadores daquele time.

Fosse como fosse, após quase duas horas de muita conversa com seu obediente e esforçado celular – ou de muito ditado, muito monólogo e alguns xingamentos – e outros tantos retoques e revisões, o escritor tinha um esboço de fábula medindo umas duas laudas e meia, ainda sem final ou título, sendo transferido para seu computador. Dias antes ele havia descoberto um aplicativo para fazer esse tipo de transferência, proporcionando interação entre o computador – onde ele costumava escrever – e o celular – onde ele já se acostumava a ditar. Era uma historieta boba até, sobre um jovem que, graças a uma crise de insônia (coincidência?), saía durante a madrugada para brincar com um joguinho que usava o GPS do celular para sobrepor os lugares da cidade com todo um ambiente de realidade aumentada, onde os jogadores caminhavam pra cá e pra lá descobrindo e caçando bichinhos virtuais. Outra coincidência, pois ele próprio tinha o tal jogo, que era uma das grandes manias dos últimos tempos.

O fato inegável é que ambos os ginásios ostentavam a familiar bandeira da equipe azul e cada qual apresentava uma vaga para colocação de um monstro sentinela, que ficaria ali posicionado, defendendo o ginásio contra invasores e auxiliando no treinamento de outros monstros de cor amiga, até o momento em que fosse derrotado e expulso, retornando para o zoológico na mochila de seu treinador, onde poderia recuperar sua saúde sendo tratado com remédios. E o jovem Jebb tinha dois monstros de estimação com muito bom nível de luta, aptos a ocupar essas posições!

Com bilhões de downloads efetuados em meses, o jogo era um sucesso absoluto de público,  obrigando toda uma geração de videogamers sedentários que viviam com a bunda colada em suas cadeiras e joystick colado na mão a ter de sair caminhando por aí – ou pedalando, ou de skate, ou de carro, ou hackeando o programa, pois trapaças sempre ocorriam – e se “dessedentarizando”, na marra.

Sorriso largo na face, olho no comunicador, Jebb quase corria pela penumbra, procurando automaticamente as lâmpadas de iluminação da avenida sem dar muita atenção ao que houvesse nos arredores. Não parou nem para capturar os dois ou três monstros que encontrou pelo caminho – eram todos morcegos mesmo...


“Só vagabundo joga esse joguinho, e mesmo quem trabalha e joga é vagabundo”, dizia o crítico feroz, por exemplo uma daquelas gordas e respeitáveis senhoras de classe média–baixa que ficavam sentadas no banco da praça com sua meia dúzia de filhos pequenos e barulhentos, metade dos quais querendo um celular novo pra poder baixar o joguinho, chorando até pra participar da última onda. “Tem gente que foi assaltado ou morreu atropelado. Teve até um caso de um cidadão que caiu de um prédio por causa desse treco!”, declarava um ancião horrorizado e bem informado, leitor assíduo de todos os jornais, até os da capital. “Mas as pessoas tão caminhando e visitando a cidade. Me parece bem saudável.”, teimava o jovem cabeludo, celular gigante na mão e fone de ouvido maior ainda perdido no meio da cabeleira. E um candidato a pastor retrucava, convicto: “Isso é um vício! O Pai só salva se você acreditar Nele e rezar e contribuir com a igreja e não ficar tomando cachaça, fumando baseado ou brincando com essas coisinhas o dia inteiro!” “É só uma modinha. Vai passar logo.”, contemporizava alguém. “Lá naquela igreja pentecostal tem um ginásio, sabia? Não é a que você vai?” “Olha só! É mesmo! Deixa eu ver?”

Enquanto os monumentos e a catedral se aproximavam fisicamente, o visor mostrava os dois ginásios também se aproximando em igual velocidade, junto dos diversos postos de coleta da praça central, todos vazios – não havia iscas nos postos, o que era um forte indicativo de que os mesmos encontravam–se desertos, sem outros treinadores concorrentes ou aliados por perto. E não era raro ver iscas acesas pelos jogadores naqueles postos nos mapas, mesmo durante a madrugada, comprovando que a competição ali era acirrada dia e noite.

As discussões eram tão frequentes quanto os downloads. O mundo inteiro baixava e comentava o sucesso do aplicativo. E, mesmo que não quisesse admitir, o escritor tinha trocado de celular justamente porque o seu aparelho antigo não era compatível com o joguinho. Havia outras razões, fone de ouvido quebrado, tecla quebrada, vidro quebrado, mas nenhuma delas fora suficientemente forte para que ele sequer pensasse no assunto até aquele momento. Tornara–se de bom grado mais um dos escravos da multimídia contemporânea.

Era a sorte grande. Créditos em dobro. E postos de coleta livres para ele renovar seu estoque de armadilhas. Talvez até comprasse algum item especial naquela noite. Talvez até aproveitasse a solidão da praça para caçar um pouco...

Tão logo o texto foi transferido e checado no computador, o escritor bocejou longamente, percebendo os insondáveis efeitos tranquilizantes que as distrações sempre ofereciam. Escrever era um desses linimentos mentais, devidamente potencializado pelo celular–ditafone, em uma combinação que tinha dado fim a sua insônia, convertendo–a em uma canseira danada.

(é lógico que o chá de camomila misturado com cidreira e melissa – maracujá não tinha – que ele preparou e bebeu sem nem se dar conta do que estava fazendo ajudou bastante...)

Já estava de pijamas mesmo, tal como estivera o personagem de sua história. Desligou o computador e o celular, esqueceu da vida e foi dormir.


*********


– Tu viu só o que aconteceu ontem aqui na praça? – comenta o ancião bem informado, leitor assíduo de todos os jornais, até os da capital.

– Ouvi dizer que morreu alguém... – diz o jovem cabeludo, celular gigante na mão e fone de ouvido maior ainda perdido no meio da cabeleira.

– Pois é – diz o ancião bem informado, folheando o jornal do dia. – Tá aqui no diário. Encontraram um guri, quem nem tu assim, atirado perto daquela estátua ali no fundo. Parece que foi assaltado de madrugada...

– Essa violência... – suspira o candidato a pastor. – Se as pessoas rezassem mais e contribuíssem com suas igrejas, essas coisas não aconteceriam.

– Deve ser mais um vagabundo, viciado – diz a gorda e respeitável senhora de classe média–baixa, cercada por sua meia dúzia de filhos pequenos e barulhentos.

– Olha só – continua o ancião bem informado. – A polícia tava passando pelo local e pegou os assaltantes quando eles tavam tentando escapar. Encontraram o celular do guri ali perto e tinha aceso esse jogo aí que vocês ficam jogando. A gurizada fica saindo de casa de noite pra brincar com essas porcarias. Mas será que não vêem que a cidade é um perigo?

– Bah! Eu nunca saio de madrugada – retruca o jovem cabeludo. – Só fico por aqui de dia, e vi gente sendo assaltada de dia...

– Já vai tarde – interrompe a gorda e respeitável senhora. – É um vadio a menos incomodando.

– Mas isso não se diz nem de brincadeira – contrapõe o candidato a pastor. – O Pai não permite. E se fosse um dos seus filhos?

– PARA DE INCOMODAR, GURI! – a gorda e respeitável senhora dá um safanão em um de seus rebentos, que começa a chorar. – Meus filhos vão pra igreja comigo, a igreja de Deus, não essa coisa aí que o senhor frequenta! E se um deles vier me pedir celular bonito pra jogar essa coisa do diabo, vai apanhar de cinta até criar vergão!

E o debate prossegue...


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