Pokémon Go vem tomando os celulares do mundo de assalto, milhões de
pessoas estão jogando, é um fenômeno de nosso tempo, bla-bla-bla. Todo
mundo já está careca de saber disso.
Como bom fã de jogos que
sou, resolvi falar deste joguinho abordando um aspecto um pouco
diferente... Não sei quanto a vocês, nerds normais, mas eu estou
conseguindo angariar não apenas pokémons jogando PokéGo como também
experiências positivas. Exemplos:
- Desde que inventaram esse tal
de "celular sinal-da-cruz" (em que o usuário fica passando o dedo pros
lados e de cima pra baixo em cima da tela fazendo sinal-da... ora, vocês
entenderam!) que as pessoas se encontram com seus celulares pra...
ficar mexendo nos tais celulares! Nem conversar as pessoas conversam,
preocupadas que estão com seus whatsapps, facebooks, twitters,
etcéterapps. O Pokémon Go me parece ser um dos poucos casos em que as
pessoas se reúnem com seus celulares para CONVERSAR COM A BOCA -
enquanto mexem nos celulares, óbvio. Deve ter gente por aí descobrindo
que nem conversar mais usando a boca direito sabia. E você nem queira
saber como conversar usando a boca é legal!
- Todo mundo conhece
os gamers típicos que curtem jogar videogames e afins em sua forma mais
clássica... e sedentária. É só meter a bunda na cadeira e passar o resto
da vida gastando os dedos apertando botões para ser um desses caras.
Pausas pra comer, ir ao banheiro, dormir (nem sempre) e ir ao
fisioterapeuta pra se livrar da tendinite, o impulso de voltar a
enterrar a bunda na cadeira para ficar apertando botões de novo para
todo o sempre é forte e contagiante. Truques sujos à parte (andar de
carro, gastar montes de iscas nos mesmos Pokéstops e ficar lá até morrer
de fome ou as pokébolas acabarem...), não é de se duvidar que tenha
gente por aí que nem mais se recordava que tinha pernas e - surpresa! -
as redescobriu. Pokémon Go, de um modo ou de outro, faz as pessoas
caminharem, ou seja, é um passatempo SAUDÁVEL, pra dizer o mínimo. Eu
mesmo andei mais de 25km nas quatro trips que fiz pela cidade desde que
instalei o jogo! Confesso que tenho o hábito salutar da caminhada
diária, e esse hábito ficou mais divertido e descontraído. Redescubra
suas pernas - jogue Pokémon Go!
- Vi um pai, um rapaz com seus
trinta e poucos anos, e seu filhinho, uma criança lá pelos dez, numa
certa praça em um dia desses. Estavam sentados juntos num dos bancos,
cada um com seu celular, e era notável que conversavam sobre, e
capturavam Pokémons, usufruindo da isca instalada em um Pokéstop
próximo. O diálogo fluia entre os dois, o menino perguntava, o pai
respondia e ensinava coisas. Achei magnífico, ainda mais neste mundo em
que é normal que pais interajam pouco com os filhos. É ótimo ver que de
alguma forma PokéGo serve para retomar esse tipo de contato,
incentivando a aproximação familiar. Ah, e o mesmo vale pros namorados,
irmãos e irmãs, amigos, conhecidos. Pokémon Go surge como uma grata
forma de promover a interação entre pessoas que, sem o joguinho, talvez
não tivessem o menor motivo para se reunirem, conhecerem-se ou manter
qualquer forma de relacionamento mais intimista.
- Papo mais
sério, agora. Pokémon Go nos faz refletir a respeito de alguns direitos
que a gente achava que tinha, em especial o de IR E VIR. Percebe-se como
nunca antes que andar por aí é uma coisa que pode ser perigosa, e
muito. Temos consciência que devíamos poder andar livremente por aí, e
até acreditávamos que podíamos fazer isso, mas o jogo tem revelado que
andar por aí é um desafio íngreme, algo que dá medo. A segurança é
precária e lugares que deviam ser pontos turísticos de visitação como
são grande parte dos Pokéstops e PokéGyms não têm luz suficiente à
noite, são tomados pelo descaso, ou por pessoas suspeitas, pra não dizer
malfeitores. Não é de se duvidar que, influenciadas pela febre em torno
dos Pokémons, iniciativas públicas surjam visando revitalizar pontos
turísticos ermos, tornando-os novamente atraentes ao público. Ora, a
própria presença de Pokégrupos de jogadores em lugares públicos já os
torna mais amistosos...
- E, já que estamos falando de pontos
turísticos... Que mal há em dar uma espiadinha naquela estátua ou
escultura Pokéstop que você nem conhecia e encontrou pelo caminho ou
visitar aquele museu que você descobriu procurando um estádio novo para
batalhar? Mal algum! É culturalmente saudável, de todas as formas que se
possa imaginar, ao menos para mim.
Decerto existem pontos
negativos em Pokémon Go, como em tudo na vida, mas existem pontos
positivos. E me parecem ser muitos pontos positivos. Consegue encontrar
mais um?